Uma breve introdução a ideologia alemã de Marx e Engels.
É com a ideologia alemã que Marx e Engels apresentam o materialismo dialético pela primeira vez. Com os cursos de direito, filosofia e história Marx passa a participar da vida intelectual e política, ao lado daqueles que se opunham a monarquia absolutista da Prússia. Segue inicialmente o pensamento de Hegel, que no momento era a filosofia oficial e que compreendia o Estado como reino da razão. Deste modo, Marx seguiu o pensamento dos Hegelianos de oposição, mas sempre com a característica crítica e prática, dado o fato de que a escola Hegeliana se encontrava em desagregação. De Hegel, Marx se sentiu particularmente atraído pelo conceito de dialética, que pela primeira vez na história assumia uma caracterização consciente e sistemática.
Em 1841 passa a trabalhar no Gazeta Renana, como diretor de redação. O Gazeta era um jornal que exprimia a orientação da burguesia liberal, que em dado momento estava acumulando forças para revolução democrático-burguesa. Já em 1843 conhece os socialistas, e entra em contato direto com Proudhon e com ele concorda quanto ao proletariado ser uma classe explorada e por esta razão, revolucionária.
Já Engels, filho de um industrial, também tomou partido pela oposição a monarquia absolutista e seguia, como Marx, os jovens Hegelianos de oposição. Desde cedo, em trabalho entrou em contato com o movimento operário, e até mesmo antes de Marx, com as ideias socialistas. Foi o conceito de valor e de trabalho, comum aos dois pensadores, que inicialmente os uniu em uma afinidade jamais vista, esse primeiro encontro é datado de 1844.
Outro pensador da época, que precisamos recordar para compreender a ideologia alemã, é Feuerbach, Em 1841, publicou a essência do cristianismo, e logo mais em 1843 publicou Fundamentos para a filosofia do futuro, com defesa total do ateísmo, e adotando o materialismo. Para este pensador, deus era uma criação humana, Feuerbach desenvolveu o materialismo humanista e naturalista, e propôs substituir a religião cristã pela religião da humanidade. Marx e Engels aceitaram com ânimo o pensamento de Feuerbach e por meio dele adotaram o pensamento materialista. Marx e Engels iniciaram processo de intensa reelaboração da dialética hegeliana, que resultou em uma integração desta ao corpo do materialismo, e a reconstrução deste como materialismo dialético.
O marxismo nasce de dentro do movimento operário, e portanto não é um acontecimento puramente intelectual, e sim um acontecimento sócio-político de significação histórica e mundial. Outra fonte do marxismo, podemos dizer, é a historiografia francesa, mais precisamente da época da restauração, que menciona a luta de classes entre aristocracia e burguesia como explicação da revolução francesa. Marx chega independentemente ao materialismo histórico, segundo o próprio Engels, e o projeto está pronto em um manuscrito datado de 1846, mas que só foi publicado em 1933. é dividido em três partes, a primeira, que será apresentada aqui, contém os conceitos e compreensões básicas do materialismo histórico.
Ponto importante que merece atenção é o conceito de ideologia. Para Marx e Engels o desenvolvimento das ideias era subordinado, dependente. Para eles, as ideias se sistematizaram na ideologia, sendo esta um compêndio de ilusões através dos quais os homens pensam sua própria realidade, de modo fantasmagórico. É sobre o prisma da ideologia que a história se desenvolve como realização da ideia absoluta, da consciência crítica, mas para tanto é preciso compreender que as ideias não possuem existência própria, mas são consequência da história material. Para Marx, a ideologia compreende o campo da superestrutura. Deste modo podemos compreender ideologia, para o pensamento marxiano, como consciência falsa, porém necessária aos homens e que resulta da urgência de se pensar a realidade sob o ponto de vista específico da classe social. Marx e Engels não chamam a sua teoria de ideologia, pois a consideram como uma teoria que propõe a reconstrução científica da realidade social e, ao mesmo tempo, é expressão dos interesses de classe do proletariado. Porém, o conceito ganhou diferentes compreensões dentro do mundo marxista com o passar dos anos.
Para Marx e Engels a essência do homem é o conjunto das relações sociais, de outro modo, eles compreenderam que a humanização do ser biológico acontece dentro da sociedade. Deste modo o ponto de vista do materialismo histórico parte dos indivíduos humanos, suas ações e condições reais de vida. De outro modo, podemos dizer que os indivíduos são dependentes das condições materiais de sua produção. Marx e Engels também propõem a ideia de que as relações de produção são sempre substituídas por outras, constantemente e de acordo com a forças de produção, deste modo, a história se apresenta como a sucessão de modos de produção.
De acordo com esses conceitos é que Marx e Engels interpretam a história, e apresentam a mesma dando ênfase às transformações sobre a propriedade e em conformidade com as transformações das forças de produção. Para eles a história aparece como a história da luta de classes.
O pensamento marxiano da ênfase a divisão do trabalho, considerando como fator essencial do desenvolvimento histórico. Deste modo, mostram que a divisão do trabalho na comunidade era comandada pelo fator sexo. Já com o aparecimento das cidades, e a consequente oposição entre a cidade e o campo, o fator natural sexo da divisão do trabalho é substituído por questões sociais. Com esse processo a questão da propriedade toma forma, primeiramente como propriedade comunal tribal até chegar à propriedade privada burguesa. Para Marx e Engels há uma íntima relação entre divisão do trabalho e propriedade.
Estes pensadores entenderam que há uma notória vinculação do Estado aos interesses da classe dominante. E com a divisão do trabalho dá-se uma separação entre o interesse particular e o comum, sendo o segundo encarnado pelo Estado. Porém marx entende que esse ideário dado ao Estado é ilusório, pois este constitui órgão de dominação burguesa. Para Marx e Engels a sociedade civil cria o Estado, e é o verdadeiro cenário da história. O Estado aparece a estes homens não como poder deles próprios, porém como poder alienado, à margem dos homens e fora do alcance do seu controle.
Do mesmo modo que o Estado é o Estado da classe dominante, as idéias da classe dominante são as idéias dominantes de cada época. Mas consoante o pensamento marxiano, as ideias parecem ter validade para toda a sociedade, e também para as classes submetidas e dominadas.
O proletariado objetiva a abolição de todas as formas de dominação e exploração, o marxismo aparece como doutrina que busca a hegemonia do proletariado, que seria responsável por direção de todos os explorados contra o domínio burguês. O comunismo significa a eliminação do trabalho forçado, o homem da sociedade comunista será capaz de transitar livremente entre uma tarefa e outra. Comunismo não é um Estado a ser implantado, é o movimento real que anula e supera o estado de coisas atual.
Comentários
Postar um comentário