CITAÇÕES DE O SEGUNDO SEXO SIMONE DE BEAUVOIR




Começaremos com uma seleção de partes de o segundo sexo, teoria feminista clássica! não há interpretações do texto, ou comentários, é apenas um compilado das citações que mais marcam a introdução e que juntas contemplam a ideia dá autora e da obra! Logo mais, em post futuros, traremos a biografia da autora e citações de todo o tomo I.

SIMONE DE BEAUVOIR: O  SEGUNDO SEXO. VOLUME I. FATOS E MITOS.
INTRODUÇÃO.
Há mulheres? Ou apenas uma teoria sobre um eterno feminino? Que lugar ocupam as mulheres no mundo?
 Não sabemos se ainda há mulheres, se sempre existirão, se devemos desejar que existam, e não sabemos também que lugar ocupam no mundo.
Onde estão as mulheres?
É consenso que há fêmeas na espécie humana e que constituem mais ou menos a metade da humanidade; Porém continuamos ouvindo por ai que a feminilidade corre perigo. Costumamos quotidianamente ouvir “sejam mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres”. Deste modo concluímos que se há esse questionamento, nem todo ser humano do sexo feminino é mulher.
A feminilidade é secretada pelos ovários ou apenas uma teoria platônica?
Ciência social e biologia não acreditam mais em entidades imutáveis. O comportamento é uma reação a uma situação.
A palavra mulher não tem nenhum conteúdo? Se há um conteúdo, qual? Há uma feminilidade?
As mulheres, entre os seres humanos, seriam apenas os designados arbitrariamente pela palavra mulher.
A humanidade se reparte em duas categorias de indivíduos, manifestamente diferente em suas roupas, rostos, corpos, interesses, ocupações – homens e mulheres. Se a função da fêmea não basta para conceituar mulher, e se nós recusamos explicar a mulher pela teoria de um eterno feminino, e ainda, se acreditamos que há mulheres, precisamos nos perguntar, o que é uma mulher?
O Homem representa ao mesmo tempo o positivo e o neutro. A mulher aparece como o negativo, de modo que toda determinação imposta a ela, é uma limitação, sem nenhuma reciprocidade. Há um tipo humano absoluto, que é o masculino. A humanidade é masculina, e o homem define a mulher, não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo, a mulher é o ser relativo. Dizem por ai: O homem é pensável sem a mulher, ela não sem ele. Ela não é senão o que o homem decide que seja. Ela se apresenta diante do macho como um ser sexuado, para ele a femea é sexo, absolutamente só sexo. É o que pensam. O Homem é o sujeito, o absoluto, a mulher é o outro.
A alteridade é uma categoria fundamental do pensamento humano. Para Hegel, o sujeito só se põe em se opondo, descobrimos na própria consciência uma hostilidade fundamental em relação a qualquer outra consciência. Porém, os indivíduos e os grupos são obrigados a reconhecer a reciprocidade de suas relações.
            De onde vem essa submissão da mulher?
Sempre houve mulheres. Elas são mulheres por sua estrutura fisiológica e sempre estiveram subordinadas ao homem. A alteridade aparece como absoluto, pois sua dependência não aconteceu por meio de um evento. A natureza, como a realidade histórica, não é um dado imutável. Se a mulher se vê como o inessencial que nunca retorna ao essencial, é porque não opera, ela própria, esse retorno. Os proletários dizem nós, os negros dizem nós, apresentam-se como sujeitos transformam em outro os burgueses e os brancos, mas as mulheres, salvo manifestações abstratas, não dizem nós, os homens dizem as mulheres e elas usam essas palavras para designarem a si mesmas, mas não se põem autenticamente como sujeito. A manifestação das mulheres nunca passou de um simbolismo, só ganham o que os homens concordaram em lhes dar, não tomaram nada, apenas receberam; isso porque não tem os meios para se reunir em uma unidade que se afirmaria em se opondo. Vivem dispersas entre os homens, ligadas a eles pelo habitat, por interesses econômicos, pela condição social, ligadas ao pai ou ao marido, mais do que a outras mulheres. O laço que a une a seus opressores não é comparável a nenhum outro, pois a divisão dos sexos é um dado biológico e não um momento da historia humana. Isso é o que caracteriza fundamentalmente a mulher: ela é o outro, dentro de uma totalidade cujos dois termos são necessários um ao outro.
            A necessidade biológica – desejo sexual e desejo de posteridade – que coloca o macho sobre a dependência da femea, não libertou socialmente a mulher. Ora, a mulher sempre foi se não escrava do homem, sua subordinada, os dois sexos nunca partilharam o mundo em igualdade de condições. Mesmo quando os direitos lhe são abstratamente reconhecidos, um habito impede que encontrem nos costumes sua expressão concreta. O presente envolve o passado, e o passado todo a historia foi ditada pelos homens. Renunciar ser o outro, recursar a cumplicidade do homem, seria para elas, renunciar todas as vantagens que os homens podem lhe conferir, pois o homem protegerá materialmente a mulher e lhe justificará a existência. Há também a tentação de dispersar sua liberdade, pois é um caminho alienado, perdido, e então o individuo – mulher – continua preso de vontades estranhas – dos homens – cortadas de sua transcendência; este caminho, - de dispersar sua liberdade – é também o mais fácil, pois evita a angustia e a tensão da existência automaticamente assumida. Deste modo, a mulher não se reivindica como sujeito porque não possui os meios para isto, porque sente ser necessário estar presa aos homens e não reclamar a reciprocidade, e porque, muitas vezes, se compraz no seu papel de outro.
            Mas como tudo isso começou? Porque o homem venceu desde o inicio? Porque o mundo sempre pertenceu aos homens e só hoje – 1949 – o mundo começou a mudar? Será boa essa mudança? Trará uma partilha igual do mundo entre homens e mulheres?
            Para Poulain De La Barre – feminista pouco conhecido do Século XVII – tudo que os homens escrevem sobre as mulheres deve ser suspeito, pois eles são ao mesmo tempo juiz e parte. Legisladores, sacerdotes, filósofos buscaram demonstrar que a condição subordinada da mulher era desejada no céu e proveitosa na terra; as religiões criadas pelos homens mostram essa vontade de domínio, buscaram argumentos nas lendas de Eva, de pandora, colocaram a filosofia e a teologia a seu serviço. O Código Romano, para limitar os direitos das mulheres, considera a imbecilidade como a fragilidade do sexo. Santo Agostinho diz – a mulher é um animal que não é estável; Montaigne compreendeu a arbitrariedade e a injustiça do destino imposto às mulheres, mas não chegou a defendê-las. Apenas no século XVIII que homens democratas encaram a questão com objetividade, buscando mostrar – como Diderot – que a mulher é, como o homem, um ser humano. Já no século XIX, uma das consequências da revolução industrial é a participação da mulher no trabalho produtor; neste momento, reivindicações feministas saem do território teórico e encontram fundamentos econômicos, mas então as mulheres passam a serem encaradas como concorrentes. Em seu conjunto, as mulheres são – infelizmente – inferiores aos homens, pois sua situação oferece menores possibilidades. Mas o problema é em descobrir se esse estado de coisas deve ou não se perpetuar.
            O mais medíocre dos homens se considera um Deus para as mulheres; tratam com desdém as mulheres que falam com eles em igualdade; ninguém é mais infeliz e desdenhoso com as mulheres do que o homem que duvida da sua virilidade.
            Em que o fato de sermos mulheres terá afetado nossas vidas? Será a dona de casa mais feliz que a operaria?
            A perspectiva adotada é a da moral existencialista, pode se realizar um ser humano dentro da condição feminina? Como encontrar a independência no seio da dependência? Que circunstancias limitam a liberdade da mulher e quais ela pode superar? Falamos em liberdade, trataremos de mostrar como a realidade feminina se constituiu e porque a mulher é o outro; Descreveremos do ponto de vista da mulher, o mundo.

@cientista_social_utópico.

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